Esta fazendo aquele calor horrível novamente, meus pobres
gatos não se aguentam de tanto calor, minha magrela, deita-se no chão do
quintal, diante de uma sombra, e dorme confortavelmente até a noite, fico a
olhar ela, imaginando que para os gatos tudo é mais simples, basta comer,
dormir, deitar e descansar, ser um gato é fácil, não necessita de treinamento
prévio, minha magrela não faz nada de especial, é em palavras mais amáveis, uma
inútil.
Mas no bom
sentido, não faz nada que mereça um vídeo no youtube, mas mesmo assim, sua vida
é regada por uma facilidade tamanha, que me faz sempre desejar ser ela.
Nenhum gato leva vida tão fácil como minha querida
magrela, os outros gatos tem que se preocupar em subir nos telhados, miar na
madrugada, acasalar, minha magrela não faz nada disso, de certa forma ela é
como eu, “antissocial”, não possui outros gatos a quem possa chamar de
amigo,nunca acasalou,gosta somente de ficar sozinha, sem muito que fazer.
Vez ou outra vem
até mim, e mia feito uma louca, é o sinal de que esta com fome, é hora da sua
ração, que tem que ser escolhida com cuidado, outra marca ela não come, e basta
me afastar para vê-la devorar seu rango,daqui onde estou escrevendo, posso ver
ela deitada no quintal, debaixo da escada, magrela é mesmo uma gata fogosa,
quase nunca posso fazer carinho nela, porque ela não gosta de melodrama,as
vezes não me contenho,pego ela no meu colo,e a abraço, faço carinho em sua
barriga,ela fica louca,não gosta disso,adora ser independente.
Minha querida
magrela, mais fresca do que nunca nesse calor infernal, magrela também é uma
gata culta sabe, às vezes tenho a impressão de que ela sabe ler, ou de que ela
é uma bruxa metamorfoseada em um gato, e que sabe tudo que acontece ao seu redor,
magrela consegue me assustar, por viver sozinho, fico constantemente envolto em
meus pensamentos,quando isso acontece,ela consegue me lançar um olhar profundo,
como se quisesse me dizer:
-eu sei o que você fez no verão passado. Ela me joga um
olhar tão penetrante, que começo a acreditar que sou uma pessoa melhor, ou que
sou a pior das pessoas que já viveu sobre a terra.
Ter a magrela é
uma coisa muito boa, nesses dias de verão tão quente e solitário, magrela é
minha única e verdadeira companhia, a companhia de um jovem escritor.
Acho que foi Rubem Alves, que em uma crônica na qual
falava sobre amizade, deu a receita para se identificar um verdadeiro amigo,
nunca virei a esquecer de suas palavras, ele diz que com um amigo, não é
necessário falar nada, basta à alegria de se estar junto com a pessoa que
gosta.
Com magrela sinto
isso, não é necessário que eu diga uma palavra, ela me entende e eu entendo
ela, diante dela sei que não estou só. É como disse Rubem, “alegria maior não
pode existir”.
Ariel Henrique martins